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Há mais coisas entre o morro e o asfalto, Horácio, do que sonha nossa Filosofia.

Após 450 anos de história, os conflitos que marcaram a fundação
da cidade ainda marcam o cotidiano. Há o que comemorar e o que lamentar. O Rio ainda é o lugar dos encontros, das rodas de samba, dos bailes funk, das misturas e mestiçagens afetivas, da conversa na esquina, da cerveja, da carne queimando no centro de uma roda onde se joga conversa fora. Mas também é o lugar das barreiras policiais, dos arrastões, das execuções e outras violências habituais.

Nesta quarta edição, entre a cidade partida e a cidade cerzida, a Flup comemora os 450 anos do Rio, sem deixar de enxergar o que há de problemático e contraditório na ideia de Carioquice. De qualquer forma, nunca deixamos de apostar no que a cidade tem de bom, de produtivo e democrático. Por isso, durante a Flup Pensa, que durou oito meses este ano, propusemos um encontro de autores com pontos de vista diferentes (foram 70 ao todo) que publicaremos em livro em 2016; percorremos três pontos da metrópole fluminense: Caxias, Itaboraí e a zona oeste da cidade; e,
por fim, imaginamos o Rio de Janeiro no futuro, em 2065, quando
completará 500 anos.

Sincronicidade, conforme a definiu Jung – uma coincidência
significativa, pra simplificar –, é o que explica realizarmos a Flup este ano no complexo Babilônia/ Chapéu Mangueira. Tradicionais favelas do Leme, elas estão no cerne das discussões
sobre as reformas da cidade e os processos de gentrificação. Além
de estarem na vizinhança das tensões recentes entre as zonas da cidade. Além disso tudo, as comunidades são reconhecidos ambientes de criação estética e diálogos, tem uma vista incrível da orla e foi o cenário principal da última novela das nove (noves fora, ainda por cima um dos criadores do festival é morador local).

Este ano, mais uma vez um conjunto muito significativo de autores (nacionais e internacionais) se juntam pra conversas bacanas sobre temas tão diversos quanto “sexualidade contemporânea” e “fugas de estados autoritários”. Outros 16 poetas, de 16 países (incluído o Brasil), põem à prova a qualidade de seus textos e de suas performances no II Rio Poetry Slam, repetindo a exitosa parceria iniciada ano passado com a incrível turma paulistana do ZAP! – Zona Autônoma da Palavra/Núcleo Bartholomeu de Depoimentos. Sem falar nas inúmeras ações, oficinas, shows, atividades infantis e juvenis e outras costuras que transformarão a Babi e o Chapéu em ambientes para a reflexão, as trocas e a fruição da Literatura, Leitura e Cultura.

Em tempo, num ano em que a crise econômica assombra o país
inteiro e incentiva os piores prognósticos, pra nós é uma grande alegria poder realizar a nossa ação, mesmo em face de tantas
dificuldades. Nossa gratidão à equipe, patrocinadores, apoiadores,
parceiros, aliados que concorrem pra que dê tudo certo e o
pessimismo não triunfe.

Nada mais oportuno, nesse contexto, que homenagear Nise da Silveira. Além de seu pioneirismo, de seu peso científico e sua importância para nosso imaginário, ela adiciona ainda a informação do feminino, que deve orientar, com mais ênfase, os eixos de nossas ações. Com a presença de Nise, queremos nos apropriar da ideia de afeto catalisador, para pensar um cuidado,
quase terapêutico, com o Rio. De forma que a cidade que tentamos
imaginar daqui a 50 anos esteja, quem sabe, inquestionavelmente,
aberta a todxs.

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