Quando criamos a FLUPP, um longo fio de histórias, experiências, relações e figuras emblemáticas conspirou para dar forma a uma ideia: criar um processo de reivenção da cidade e da vida através da Literatura. Entre as muitas causas e influências, Abdias
Nascimento ocupou um lugar destacado. Sua vida, sua visão de mundo, seus gestos e seus escritos são como indicações num mapa noturno. Elas orientam a caminhada, apontam
os caminhos. E, de algum modo, explicam um Brasil que só agora se desesconde em escala mais ampla.
Com a Frente Negra Brasileira, na década de 1930; o Teatro Experimental do Negro (TEN), criado em 1944; eventos históricos,
como o I Congresso do Negro Brasileiro, ou a Convenção Nacional do Negro, na década de 1940-50; a fundação do PDT; a eleição
para o Congresso e depois para o Senado, nas décadas de 1980-90; com a criação de leis importantes para os afro-descendentes;
a criação do Ipeafro e ainda a publicação de obras fundamentais, como Axés do sangue e da esperança (orikis), em 1983; Sortilégio (Mistério Negro), em 1959; O genocídio do negro brasileiro, em 1978; e Quilombismo, em 1980, Abdias construiu uma trajetória de vida capaz de nos inspirar e motivar a continuar a árdua, mas necessária, tarefa de enfrentar o racismo, a intolerância e outros obstáculos à radicalização da democracia no Brasil.
Essa é, sem dúvida, uma das motivações da FLUPP em 2014.
Viva Abdias Nascimento.