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Nosso objetivo maior sempre foi colocar o livro, a leitura,
a literatura e o conhecimento na ordem do dia.

Com as bênçãos de Lima Barreto, Waly Salomão e agora de Abdias Nascimento, autores homenageados nas três edições realizadas até aqui, a FLUPP – Festa Literária das Periferias, estreou em 2012, no Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, Centro do Rio de Janeiro. Depois, realizou a segunda edição em Vigário Geral, por onde Waly Salomão andou e deixou legados importantes, inclusive as ações do AfroReggae, nosso parceiro nesse ano.


A terceira, que se realiza agora em novembro, acontece na Mangueira, uma das mais tradicionais favelas cariocas. Durante cinco dias, livros, leituras, escritores do Brasil e do mundo inteiro, oficinas, teatro, exposições, ações culturais diversas ocuparão inventivamente a comunidade.


Por incrível que pareça tudo começou na cidade de Nova Iguaçu, em julho de 2010. Naquele momento e lugar, Júlio Ludemir e Écio Salles conversaram pela primeira vez sobre o desejo de realizar uma grande festa literária, tipo a FLIP, numa favela carioca.
Foi aí que nasceu a FLUPP.

Logo em seguida, formamos um time – na verdade, uma verdadeira Seleção – de primeira linha para pensar e concretizar o evento. Heloísa Buarque de Hollanda e Luiz Eduardo Soares deram o toque que faltava para a vontade virar ação. Claro que esta história só foi possível graças a um time que abraçou o projeto ainda no nascedouro. A ACEC – Elisa Ventura, Renata Aragão — a Rinoceronte — Renata Leite e equipe — a ISSO Produções - Joana Henning e Márcio Brow — e Joanna Savaglia, Camilla Leal e Jéssica Oliveira formaram o dream team que concretizou o aparentemente delirante desejo de realizar um grande evento literário em favelas do Rio. Nos primeiros anos, ainda contamos com Toni Marques, que assumiu a curadoria, e Raul Fernando na produção. Esse foi o primeiro impulso. Agora são muitos nomes, muitas vidas, muitas experiências, muitos parceiros que fazem a FLUPP existir e ajudar a reinventar a cidade.


Uma questão importante, desde o início, era garantir que o evento não fosse uma ação isolada, mas a culminância de um processo. Assim nasceu a FLUPP Pensa, um processo formativo realizado nos meses anteriores à FLUPP. Entre março e julho de 2012, a FLUPP Pensa realizou 14 ações em diferentes comunidades da metrópole fluminense e mais duas na Academia de Polícia Militar, num processo de formação de novos leitores e autores. No final, publicou um livro com 43 novos autores. Em 2013, foram 22 favelas e 30 ações na cidade, culminando com a publicação de três livros: um romance, uma coletânea de contos e crônicas e uma de poesia. Finalmente, em 2014, a FLUPP Pensa expandiu as fronteiras, passou pela periferia de quatro cidades brasileiras – Vila Verde, em Curitiba; Alagados, em Salvador; Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo e Maré, no Rio de Janeiro. O livro publicado reúne os melhores textos produzidos nesses quatro locais.


Esse processo demonstrou que não só existe um público leitor nas periferias do país,
mas também um grande número de poetas, contistas, romancistas, cronistas. Como diria Sérgio Vaz, um povo lindo e inteligente que faz da Literatura seu mais potente meio de expressão.


Além disso, é fundamental que a FLUPP produza legados. Há sempre um longo período de conversas com cada comunidade, a fim de garantir que a passagem do Festival deixe alguma consequência para além do evento. No Morro dos Prazeres, por exemplo, entre tantas realizações, fizemos a obra na biblioteca da Associação de Moradores, contribuindo para seu pleno funcionamento.


Nosso objetivo maior sempre foi colocar o livro – e a leitura, a literatura, o conhecimento – na ordem do dia. Conectar diversas redes a partir dele, torná-lo visível, usual e efetivo também para a chamada classe C. Classe C de Cultura como dizemos o tempo todo. Para nós, é importante irradiar, multiplicar e compartilhar o hábito da leitura, para muito além das disposições do mercado. Acreditamos no poder de transformação dos livros, da leitura, do conhecimento. Sabemos que esses elementos não transformam o mundo, mas transformam as pessoas. Transformou a nós. Transformou a muitos outros com quem nos encontramos nessa travessia compartilhada, nessa missão de reinventar a cidade. E podemos transformar e reinventar mais. Há muitos conspirando para esse fim.

 

Nós somos mais uma abelha nesse enxame, mais um peixe nesse cardume.

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