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Flup 2020 homenageia Carolina Maria de Jesus

e Lélia Gonzalez

A Flup de 2020 homenageia duas autoras negras, que estão na origem do cada vez mais potente feminismo negro brasileiro: Carolina Maria de Jesus e Lélia Gonzalez. A ideia de homenagear essas duas autoras precede a pandemia do Covid-19, mas certamente ficou mais potente com a devastadora tragédia sanitária que paralisou o mundo em 2020.
 

Dedicamos a Carolina Maria de Jesus um ciclo de debates, que começou em 12 de maio e se estendeu até 19 de agosto, dia do aniversário de 60 anos do fundamental Quarto de Despejo. Esse ciclo culminará com a publicação de um livro em que mulheres negras de todo o país, inclusive catadoras de material reciclável do ABC paulista, reescreverão o primeiro livro escrito por uma mulher negra a fazer sucesso mundial. 

 

Participaram desse processo 46 pessoas negras, das quais apenas sete eram do sexo masculino. Discutimos todos os aspectos possíveis da obra de Carolina Maria de Jesus, fazendo um resgate que foi acompanhado por cerca de 60 mil pessoas ao longo das 15 mesas que organizamos. O vigésimo segundo revelará uma das mais potentes gerações de narradoras negras de nossa história.

 

Viramos a página em setembro, mais precisamente no dia 19. Iniciamos então um ciclo dedicado a Lélia Gonzalez, esse último sempre pautado pelo conceito de amefricanidade, que ela criou para explicar o que chamava de América Latina. Concebemos sete encontros, envolvendo 21 corpos negros, numa explícita referência a Exu, o abridor de caminhos. O poderoso feminismo negro brasileiro, principalmente aquele que está transbordando das universidades para as ruas, começou a ganhar forma quando o corpo exuberante de Lélia se impôs nos pilotis da PUC-RJ.

 

Ainda que essa amiga de Angela Davis seja esse marco fundador do único movimento que pode nos dar esperança por dias melhores no Brasil, sua obra e mesmo suas ideias são muito menos conhecidas do que o seu nome. É possível que ela repita o mesmo fenômeno que aconteceu com Carolina Maria de Jesus, que ao longo desse ano saiu de um quase ostracismo para os primeiros lugares da lista de livros mais vendidos. Temos certeza de que um dos grandes momentos do ciclo será o lançamento da coletânea de ensaios, artigos e entrevistas de Lélia Gonzalez, organizados por Flávia Rios e Márcia Lima. As duas farão a mesa de abertura da Flup, no dia 29 de outubro.

A programação nacional faz referências mais explícitas à obra de Lélia, durante a qual teremos mulheres negras como Carla Akotirene, Elisiane dos Santos e Djamila Ribeiro, além de algumas das mais relevantes lideranças indígenas da atualidade. Mas essa homenagem também está presente no esforço que fizemos para ter poetas das três Américas dizendo seus poemas e falando da cena do slam em países tão diferentes quanto Haiti e Argentina, mas sempre herdeira de uma história colonização sangrenta e sufocante. Teremos poetas de nada menos que 14 países do que hoje os pensadores decoloniais chamam de Abya Yala.

 

Também foi pensando no universalismo de Lélia Gonzalez, que fez relações com a Diáspora mundial já na década de 1980, que tivemos o cuidado de ouvir mulheres negras das mais diversas realidades. Fomos à Escócia falar com a top-model Eunice Olumide e de lá para a Espanha de Rita Bosaho e Portugal de Beatriz Gomes, que fazem parte da primeira geração de parlamentares negras na Península Ibérica.

Foi ainda no contexto dessa homenagem que fizemos a parceria com o TIFA, parceria que nos permitiu incluir a sempre necessária Grada Kilomba. Fizemos um strike no feminismo negro francófono, com painéis que envolvem da escritora camaronesa Léonora Miano à filósofa belga Nadia Yala Kisukidi, passando pela filósofa Hélène Neveu e acima de tudo por Assa Traoré e Priscillia Ludosky, que estão à frente dos surpreendentes Coletes Amarelos e Black Lives Matter. Lélia certamente estaria acompanhando de perto como a Diáspora Africana está reagindo.

 

Ainda que Achille Mbembe seja do sexo masculino, temos certeza de que ela estaria acompanhando com entusiasmo a leitura que o autor de clássicos como Necropolítica e Crítica da Razão Negra. Movemos mundos e fundos para entrevistá-lo em Johannesburgo, literalmente do outro lado do mundo. Mas sabíamos que viria dele a análise mais profunda de um mundo que certamente não será mais o mesmo desde o dia 25 de maio de 2020 - quando George Floyd foi se encontrar com Lélia Gonzalez no Orum. 

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