Tem coisa que você só vê na Flup, a Festa Literária das Periferias: poetas da Guatemala, da Palestina e do Afeganistão numa batalha de Slam; um encontro entre Brasil e Haiti protagonizado pelas escritoras Conceição Evaristo e Yanick Lahens; Gilberto Gil e Haroldo Costa falando de segunda abolição num 13 de maio; a primeira batalha de poesia falada indígena, em língua nativa; um encontro de ilustradores que atraiu uma multidão de moradores de Vigário Geral interessados em ter o seu rosto e o de seus familiares desenhados; a voz de Maria Bethânia declamando poemas no carro do ovo da Babilônia e mais.
Em 2023, a Flup vai alcançar outro marco inédito. Traz para o Rio de Janeiro o II Mundial de Slam, com 40 poetas dos 5 continentes. O Morro da Providência, encruzilhada onde se deram vários nascimentos: do samba, da favela, de Machado de Assis, da literatura, poética e cultura diaspórica afrobrasileira, vai se tornar a "Favela da Poesia", em outubro, em 9 dias de programação.
Em 12 anos, o festival já passou pelo Morro dos Prazeres, Vigário Geral, Mangueira, Babilônia, Vidigal, Maré, Biblioteca Parque e Museu de Arte do Rio - MAR, promovendo encontros entre grandes personalidades da literatura, tanto nacionais quanto internacionais. Grada Kilomba, Patricia Hill Collins, Saul Williams e Felwine Sarr já estiveram nos palcos da Flup. Djamila Ribeiro, Conceição Evaristo, Heloisa Buarque de Hollanda, Liniker, Silvio Almeida, Lázaro Ramos, Elisa Lucinda, Ariano Suassuna e João Ubaldo Ribeiro também fazem parte da história do evento.
"Além de tudo que a Flup faz pela promoção da palavra, tem uma coisa que é linda: permanecer. Isso é vitória, a gente tem que celebrar. Desejo vida longa a Flup, porque é um projeto necessário para a palavra, ou melhor, para o bom uso da palavra", declarou o ator e escritor Lázaro Ramos, em outubro de 2022, quando participou da série de debates em homenagem ao centenário de morte de Lima Barreto, o Quilombo do Lima, no Muhcab.
Na Flup, a caneta e a palavra estão nas mãos e no rosto de pessoas negras, indígenas, quilombolas, trans, nortistas, nordestinas, periféricas. Desde 2012, quando criado por Ecio Salles e Julio Ludemir, o projeto desenvolve ações de promoção e formação literária, incentivando a cultura em territórios tradicionalmente excluídos, valorizando sobretudo a cultura afrobrasileira e oriunda das favelas. "Os Slams, por exemplo, evocam a oralitura, literatura e poesia de quem não segue as margens ou pautas de cadernos, livros e papéis ocidentais, trata-se de uma escrita-fala periférica, que rompe as margens", destaca Julio Ludemir, diretor-fundador da Flup.
Por promover deslocamentos importantes na cultura brasileira, que por séculos ficou entre as elites brancas, a Flup recebeu prêmios e reconhecimento, entre eles, o Faz diferença de 2012, o Awards Excellence de 2016 e o Retratos da Leitura de 2016, respectivamente outorgados pelo jornal O Globo, a London Book Fair e o Instituto Pró-Livro. Em 2020, a Flup foi vencedora do Prêmio Jabuti na categoria Fomento à Leitura. Este ano, um Projeto de Lei que declara a Flup patrimônio cultural foi protocolado na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
Processos formativos
Além dos eventos abertos ao público, a Flup promove uma série de processos formativos, que envolvem escritores, roteiristas e slammers. Como resultado, na literatura, já publicou 30 livros com autores de periferias. Pode-se atribuir à Flup a emergência da primeira geração de escritores oriundos das favelas cariocas.
"A Flup pra mim é um monumento na cultura brasileira. É uma coisa muito importante pra mudança que a gente vive no mercado editorial hoje", declarou Geovani Martins, em Paraty, na Flip de 22. O escritor começou nas oficinas literárias da Flup e seu primeiro livro de contos, Sol na Cabeça (Cia das Letras), ganhou o Prêmio Jabuti e foi vendido para editoras de nove países.
No audiovisual, o Laboratório de Narrativas Negras e Indígenas para Audiovisual (Lanani), parceria da Flup e a Globo, já formou mais de 200 roteiristas nos últimos seis anos, renovando o mercado audiovisual brasileiro.
Flup 23: Mundo da palavra, palavra do mundo
A Flup vai ocupar a Providência, primeira favela do Brasil, de 12 a 15 e de 18 a 22 de outubro, com uma extraordinária programação dedicada à Palavra Falada. Além de sediar pela primeira vez uma competição mundial de Slam, haverá outras batalhas de poesia: o Slam Trans Mercosul, o II Slam Coalkan, o I Slam das Minas BR, o Slam de Cria, IV Batalha de Rimas e, para terminar cada uma das noites, shows que mostram a relevância da MPB, do samba para a poesia e literatura brasileira, coroando a Favela da Poesia.
As personalidades homenageadas são Machado de Assis, cria da Providência, e Mãe Beata de Iemanjá, escritora e yalorixá. A programação inclui o lançamento de um livro que reunirá poemas de 100 poetas do mundo que passaram pelo Rio Poetry Slam, que terá sua décima edição em 2023. O festival vai celebrar os 15 anos da chegada do Poetry Slam ao Brasil, anos da emergência da mais numerosa e mais relevante geração de poetas periféricos, com um forte protagonismo das mulheres pretas.
"A poesia falada tem sido a expressão por excelência da juventude das periferias globais. Os 50 anos do Hip-hop são a prova mais evidente da potência que emerge das periferias e, ao se afirmar no centro, reinventa as margens", destaca Ludemir. Conectada a isso, uma exposição, no Museu de Arte do Rio - MAR, contará a história do poetry slam no Brasil.
A Flup 23 é apresentada pelo Ministério da Cultura, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura e Shell. Tem patrocínio master da Shell, patrocínio do Instituto Cultural Vale e Itaú Unibanco, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e Globo, por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura - Lei do ISS. O apoio é da Fundação Ford e do Instituto Ibirapitanga. A Fundação Roberto Marinho e o Canal Futuro são parceiros. Realização: Suave na Nave, Ministério da Cultura, Governo Federal.
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