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A nona edição da Flup ensaia uma narrativa sobre os corpos vulneráveis - aqueles que desde sempre são os mais afetados pelas crises, sejam elas sanitárias, econômicas, ambientais, políticas ou mesmo culturais. Neste momento somos todos onças pintadas tentando fugir das queimadas do Pantanal. Ou gentis senhoras italianas conduzidas para cemitérios clandestinos em caminhões do Exército. Não podemos silenciar enquanto morremos aos milhares - e morremos a pior morte, sozinhos, procurando ar para respirar.

 

Todas as crises sempre começaram ou terminaram no corpo - nos nossos corpos. Mas não à toa um dos maiores levantes da história se deu em seguida ao assassinato de George Floyd. Na entrevista que concedeu à jornalista sul-africana Iman Rappetti, o filósofo camaronês Achille Mbembe associou a revolta da juventude negra do mundo a dois fatores - as filmagens exibidas nas redes sociais e acima de tudo à imagem de uma pessoa pessoa sendo asfixiada, ainda que sem minimizar o cruel joelho de um policial racista sobre um homem negro. Uma pessoa sendo sufocada até a morte era tudo o que temíamos enquanto fazíamos lives de casa, esperando a pandemia passar. Impossível não termos empatia.

 

Também mobilizou a opinião pública mundial a morte em escala industrial dos povos indígenas em Abya Yala, em particular no Brasil amazônico. Essa foi uma das razões para propormos uma expressiva programação indígena no que chamamos de Diálogos Amefricanos, em parceria com o grupo Legítima Defesa, de nosso parceiro Eugênio Lima. Debateremos então tanto a crise ambiental quanto a identidade de um país amefricano, como diria Lélia Gonzalez. Definitivamente temos muito o que aprender com a resistência e resiliência dos povos indígenas. Até parece que que eles se alimentam dos ataques que sofrem.

Vulneráveis também são os corpos femininos, ainda que não haja nada mais potente e relevante do que o feminismo, particularmente o feminismo negro, plasmado no Brasil pela militância de Lélia Gonzalez - olha ela de novo. Por exemplo é feminino (e negro) o corpo de Priscillia Ludosky, uma das principais articuladoras dos Coletes Amarelos e uma das participantes da programação internacional desta Flup. Também é feminino (e negro) o corpo de Yuderkis Espinosa, uma das principais pensadoras do chamado feminismo decolonial. Em nossa programação anual, tivemos mais de 100 mulheres. Na Flup propriamente dita, não menos que 40.

Todos nós tendemos a pensar que vulneráveis são corpos mortos, como os da juventude preta que tem sido sistematicamente perseguida pelo estado. Mas a resposta das ruas de todo o mundo em seguida ao assassinato de Geoge Floyd é absolutamente reveladora de uma potência como não vemos desde a década de 1960, renovando o movimento negro com uma coragem inimaginável. Certamente passaremos os próximos 50 anos estudando as estratégias utilizadas pelo Black Lives Matter para enfrentar a um só tempo o covid-19 e a fúria trumpista.

 

Apesar de todas as ameças nesses tempos de retrocesso principalmente no campo do comportamento, também encontram saídas inventivas os corpos LGBTQIA+ que estão reinventando as batalhas de slam. Vamos mostrar a exuberância dessas narrativas durante o primeiro Slam Cúir do Brasil, pelo menos em âmbito nacional. Reuniremos nos dias 30, 31 de outubro e 1 de novembro 16 poetes de todo o país - e de todas as letras. Para se ter uma ideia da potência dessa que é a quarta geração dos slammers no Brasil, o TIFA, maior festival do Canadá, vai exibir as semifinais e a final. Alguém saberia dizer quando um festival internacional da envergadura do TIFA chamou oito jovens poetas brasileiros? 

 

Enfrentam os mesmos desafios os 13 poetas de Abya Yala que convidamos para uma amostra do que será o Slam das Américas, única das atividades que concebemos para esta edição que achamos por bem adiar. Teremos então corpos que sobreviveram a terremotos haitianos, a guerras civis na Guatemala, a ditaduras sangrentas e a todos os outros cataclismos que tanto nos irmanam. Nessas performances, estaremos fazendo o que desde sempre povos colonizados mas não subalternizados vêm colocando em prática: olhar em frente, para dias melhores. Que antes de se tornarem realidade precisam ser sonhados por nós. Que o medo não nos impeça de inventar o amanhã.

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A Flup é apresentada pelo Ministério do Turismo, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura. Patrocínio do Atacadão e Itaú, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Globo por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura - Lei do ISS. Tem o apoio da Fundação Ford e do Instituto Ibirapitanga. Realização O Instituto, Secretaria Especial de Cultura, Ministério do Turismo e Pátria Amada Brasil Governo Federal.

PROGRAMAÇÃO

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