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A vasta e complexa programação que a Flup concebeu para sua décima edição  se insere num agenda de debates e ações de um mundo cuja crise foi amplificada com a pandemia. Sabemos muito bem quais são os corpos que estão superlotando as UTIs dos hospitais públicos. Eles não são diferentes de George Floyd. Ou dos 28 jovens assassinados pela Polícia Militar na chacina do Jacarezinho, em maio de 2021.

Nosso ponto de partida foi o lançamento do livro “Carolinas”, resultado do processo formativo de 2020, durante o qual convidamos cerca de 50 pessoas negras para discutir o legado da autora de "Quarto de despejo".

O livro, que reúne texto de nada menos que 181 mulheres negras de todo o país, certamente nos apontou três dos nortes que perseguiremos ao longo do ano, ainda que na verdade estejamos falando de uma única direção.

Um dos nortes é transformar o livro “Carolinas” numa ratificação da potência do feminismo negro no Brasil, que ademais corrobora nossas expectativas sobre uma geração de escritoras negras com uma abrangência e uma qualidade como jamais tivemos em nossa história. Este livro também pode ser inserido na defesa das ações afirmativas, na medida em que a esmagadora maioria das participantes do processso formativo de 2020 passou pelas universidades, quando não eram mestres ou doutoras.

Há uma pauta adicional, que dialoga fortemente com a relevância do feminismo negro no Brasil, que é o resgate de mulheres negras com um papel relevante em lutas sociais brasileiras ou mesmo mundiais, que em ambos os casos são invisibilizados. É aí que entra o "Cartas para Esperança", que reunirá cartas de mulheres negras para outras mulheres negras que as inspiraram, dando-lhes esperança de que lutar sempre vale a pena. Esse livro resultará de uma chamada que fizemos para mulheres com um perfil muito semelhante ao das que participaram de Carolinas, cujo ponto de partida foi a live Nunca precisamos tanto de Esperança, com a advogada Sueli Rodrigues, a professora Gabriela Sá e a poeta Carmen Kemolly.  

Essa mesma pauta nos levou a convidar a professora francesa Mame-Fatou Niang para ser a curadora de um encontro de mulheres da Diáspora, que usarão os cinco anos do documentário Mariannes Noires como ponto de partida para debater as mudanças ocorridas no mundo de 2016 para cá e fazendo uma projeção do que pode acontecer nos próximos anos. Nada poderia nos dar esperança que a trajetória de um filme lançado no ano da eleição de Donald Trump, do impeachment de Dilma Rousseff e do Oscar so white. O mundo visto no ano em que seu importante documentário, cujos personagens ganharam uma extraordinária importância para a vida na França nesse período, jamais imaginaria que Kamala Harris seria vice-presidente dos Estados Unidos.

A poesia falada tem desde sempre uma grande aderência das mulheres negras, onde elas têm tido um protagonismo cada vez maior tanto nos saraus quanto nas mesas de glosa e principalmente nos slams – na plateia, com olhos vidrados; no palco, com o microfone na mão, num jogo de espelhos ao final do qual ambas as partes saem fortalecidas. Em nossa décima edição organizaremos não menos que três slams, um dos quais envolvendo apenas poetas indígenas. Faremos também o Slam Abya Yala, com poetas de 16 países das Américas disputando as cinco vagas do continente para o slam mundial de 2022.

A poesia falada também resultará num reencontro com os adolescentes das escolas públicas de ensino médio, agora em escala nacional, que disputarão nosso V Slam Colegial depois de um processo formativo de três meses. O ponto de partida dessas oficinas de escrita criativa será um seminário que debaterá essa que é a mais plataforma mais inclusiva e eficiente para a formação de leitores e autores. A mesma poesia falada será tema de debates, esses realizados no âmbito da Flup, sobre a Diáspora Lusófona.

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